quinta-feira, 2 de abril de 2009

Dancing Queen

Dia desses escrevi para o Pílula Pop uma resenha sobre “Dúvida” (“Doubt”, John Patrick Shanley, EUA, 2008), filme pelo qual Meryl Streep recebeu uma quase inacreditável 15ª indicação ao Oscar. Quase - afinal, a moral da história, ou da minha resenha, é que valeria a pena assistir a Streep interpretando até mesmo “João e o Pé de Feijão”.
A idéia de "Mamma Mia!" (Phyllida Lloyd, EUA/ING/ALE, 2008) me parecia em si um bocado absurda: um musical baseado nas canções do Abba, tendo a natureza paradisíaca da Grécia como cenário e Meryl Streep, com seus quase sessenta anos de idade, cantando, dançando e fazendo piruetas. Pensar em Pierce Brosnan, Stellan Skarsgård e Colin Firth realizando a mesma proeza fazia a coisa parecer ainda mais incongruente. Nos primeiros minutos do filme, era exatamente nisso que eu pensava. À parte o sucesso de crítica e público, não via como aquela empreitada poderia funcionar. Vinte minutos depois, eu expressava uma inevitável reação: a vontade de pular do sofá e sair cantando "Dancing Queen".
"Mamma Mia!" é um filme delicioso, e não seria tanto se estivesse preso a fórmulas. Ao contrário, a iniciante diretora me parece de uma sensibilidade aguçada, observando o material que tem em mãos – a paisagem, os atores, as letras e o ritmo – e deixando que tudo aquilo que parecia não se encaixar se conecte quase que naturalmente. A cada cena o elenco se mostra mais confortável com a proposta do filme, assim como nós, espectadores. E os astros que eu imaginava não caberem numa comédia musical romântica se permitem o que é necessário a qualquer comédia elegante: ridicularizarem-se, sem perder a pose – ou mesmo perdendo, quando a arte pede (o auge disto é a cena dos créditos finais).
A protagonista Meryl Streep diverte-se nitidamente com o papel e, sim, acerta todas as nuances narrativas de um roteiro tão errático. É claro, há outras atrizes capazes de realizar um ângulo de quase 90 graus com a perna coreografando Abba (repito, ela está à beira de completar 60 anos) e interpretar “The Winner Takes It All” com a mesma força de um texto de Tennessee Williams (numa sucessão de enquadramentos quase exclusivamente fixos nela). Mas são poucas. O mérito da divertida brincadeira que é esse filme não é apenas da estrela. Sem a delicadeza e a sensibilidade de uma equipe inspirada não se provaria aqui algo simples, mas que nesses tempos em que a moda é amar a sétima arte e procurar sempre um je ne sais quois dentro dela, parece difícil enxergar: às vezes deve-se simplesmente levar o cinema menos a sério. Para mim, incialmente descrente nessa obra, só resta uma coisa a dizer:

"Mamma mia, here I go again
My my, how can I resist you?"
Isabella Goulart





Link para o texto sobre "Dúvida" no Pílula Pop:
http://www.pilulapop.com.br/receituario.php?id=939

Um comentário:

Cfelicori disse...

Quando eu vi o cartaz aqui pensei que seria mais um desses pastelões bobões. Mas agora deu vontade de ver! bjs