segunda-feira, 18 de maio de 2009

Com ou sem Jackman

Como este blog está às moscas há mais de um mês, resolvi escrever umas poucas palavras sobre X-Men Origens: Wolverine, o número um das bilheterias brasileiras há algumas semanas. É sempre possível fazer uma análise longuíssima de um filme, mesmo quando o conteúdo é minúsculo. Mas tenho pouco a dizer sobre Wolverine - a verdade é que nem sempre as tais análises longuíssimas valem a pena.
É pública e notória minha simpatia pelo protagonista Hugh Jackman. Embora o australiano não tenha muito talento para escolher seus trabalhos no cinema, é um ator preparadíssimo, com uma séria formação profissional e anos de experiência no teatro, sobretudo em musicais. Por que razão ele embarcou em A Senha: Swordfish ou em Van Helsing - O Caçador de Monstros, e recusou papéis mais... performáticos, como o de Richard Gere em Chicago (que, bem ou mal, tem um Oscar de melhor filme), é algo que um dia perguntarei a ele. Mas Jackman ainda precisa fazer muita coisa ruim para perder a minha fé. E, seja como for, este ano ele já me ganhou por Austrália, mas isso é outra história...
Com Jackman ou sem Jackman, depois de dois minutos de filme tudo o que eu queria era sair do cinema. Como a meia-entrada é passado na minha vida e os multiplex andam caríssimos, não tive escolha, se não ficar até o final e ver aonde aquilo daria. A conclusão não me surpreendeu: Wolverine é um filme ruim.
O roteiro, até certo ponto, parece inacreditavelmente simplório, com uma oposição o mais clássica possível entre o herói/anti-herói e o vilão Victor Creed/Dentes-de-Sabre, o irmão (???) de Logan/Wolverine. As reviravoltas posteriores tentam deixar a trama mais “complexa”, mas não melhoram o roteiro.
Poderíamos pensar, seguindo a lógica de X-Men: O Confronto Final, que o esforço de se fazer um roteiro meramente não ofensivo teria sido revertido para a direção das cenas de ação e para os efeitos especiais na pós-produção. Mas não: os efeitos de Wolverine são ruins e as cenas de ação criadas por Gavin Hood não vão além do trivial do gênero.
É possível que o público se impressione com as pirotecnias e a fotografia, mas, naquele texto sobre Dúvida, que já citei neste blog, defendo justamente o contrário. “Fotografias luxuosas e excessos digitais” não me causam impacto, afinal, este é um resultado fácil de atingir, desde que se tenha dinheiro em caixa, e Wolverine é mais uma prova disso. Sendo curta, grossa e lacônica, como o próprio protagonista, resumo assim minhas impressões sobre este campeão de bilheteria: há filmes de ação melhores.

Isabella Goulart

terça-feira, 7 de abril de 2009

Que Sera, Sera

James Stewart não é Cary Grant – e era isto o que mais incomodava Alfred Hitchcock no astro com quem trabalhou em quatro filmes (Grant foi protagonista de outros quatro). Hitchcock é famoso por desprezar o trabalho de atores, exceto o de Grant, o único a quem ele respeitava. Mas isso é outra história...
“O Home que Sabia Demais” (“The Man Who Knew Too Much”, EUA, 1956) é a penúltima parceria entre Stewart e o diretor inglês – a última foi “Um Corpo Que Cai” (“Vertigo”, EUA, 1958), tendo Hitchcock culpado seu ator não-favorito pelo fracasso do filme à época. Quer aqueles dois homens se gostassem ou não, assistir a qualquer um desses filmes é um prazer enorme para quem compreende a beleza da decupagem na construção da narrativa.
Decupar é dividir a ação em planos (quadros fixos na tela) e eu acredito, cada vez mais, que está aí a arte de um grande diretor. Hitchcock, provavelmente, pensava da mesma maneira. Não se tem notícia de um profissional tão metódico em relação ao processo de decupar filmes: ele tinha o hábito de recorrer aos storyboards e possuía uma imagem mental de todas as cenas. Para ele, o trabalho de criação acabava na divisão do roteiro em planos, não havendo espaço para a improvisação no set de filmagem. Por isso, via os atores como peças equivalentes às demais do cenário, que ocupavam uma posição pré-estabelecida dentro do quadro.
O filme de 1956 é mais um exemplo das virtudes que eternizaram Hitchcock: um suspense refinado, saído de uma mente hábil em despertar as sensações do público. Sim, tudo isso graças a uma decupagem que merece ser admirada como uma obra, dessas de um museu de arte clássica, e de outros elementos acessórios. Fazer uma análise minimamente adequada do filme tomaria um tempo que eu não tenho, e um excesso de caracteres que vocês não teriam paciência de ler num blog. Portanto, cito apenas três momentos que exemplificam o que quero dizer.
No primeiro deles, James Stewart caminha numa rua vazia. Para aguçar no espectador a mesma sensação do personagem – a dúvida de estar ou não sendo seguido – Hitchcock utiliza o espaço fora de tela, mantendo a câmera fechada em Stewart, enquanto ouvimos o som de passos no fundo. Num segundo momento, na sala do taxonomista, uma conversa entre Stewart e o personagem Ambrose Chappell é filmada em plano e contra-plano. A câmera é colocada num ângulo baixo em relação a Stewart (se não me engano), que divide o quadro com a cabeça de um animal feroz (não me lembro exatamente qual é). Isto remete à sua postura de ataque naquela cena, quando tenta reaver o filho raptado. Num terceiro momento, na Capela Ambrose, ele e a esposa (Doris Day) escondem-se dos raptores da criança. Eles se colocam fora do campo de visão do espectador, que não é o mesmo dos personagens de quem eles não querem estar à vista. Uma brincadeira de Hithcock com a nossa percepção.
Dos “elementos acessórios”, a imponente trilha de Bernard Herrmann é o mais importante. Durante uma sequência de 12 minutos não escutamos nenhuma palavra, apenas o som da orquestra no teatro (regida na tela pelo próprio Herrmann). É uma cena tensa, de um enorme poder dramático e de uma elegância indescritível. Hitchcock nos faz entender que o diálogo não ouvido entre os personagens é irrelevante ali, frente às ações decupadas e coordenadas pela montagem, conduzidas pela música.
O senso de humor do diretor é óbvio e quase sádico, sendo Stewart sua vítima preferencial: desde uma mesa baixa demais, onde não cabem suas pernas longas, até a sequencia na casa do taxonomista, com leões e tigres empalhados por todo o cenário, ridicularizando a súbita ferocidade do protagonista. É também nítido o fascínio do diretor pelas mulheres (loiras): a personagem de Doris Day é mais astuta e instintiva do que seu marido, e, sendo uma famosa ex-cantora, é a responsável pelo casal estar frequentemente em evidência. A música, novamente, e a mulher têm uma função dramática decisiva, quando Day canta “Que Sera, Sera” ao piano. Por tudo isto, assistir a um suspense de Hitchcock me faz pensar, afinal, que a controversa “teoria de autor” não é um total engano.
Isabella Goulart

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Dancing Queen

Dia desses escrevi para o Pílula Pop uma resenha sobre “Dúvida” (“Doubt”, John Patrick Shanley, EUA, 2008), filme pelo qual Meryl Streep recebeu uma quase inacreditável 15ª indicação ao Oscar. Quase - afinal, a moral da história, ou da minha resenha, é que valeria a pena assistir a Streep interpretando até mesmo “João e o Pé de Feijão”.
A idéia de "Mamma Mia!" (Phyllida Lloyd, EUA/ING/ALE, 2008) me parecia em si um bocado absurda: um musical baseado nas canções do Abba, tendo a natureza paradisíaca da Grécia como cenário e Meryl Streep, com seus quase sessenta anos de idade, cantando, dançando e fazendo piruetas. Pensar em Pierce Brosnan, Stellan Skarsgård e Colin Firth realizando a mesma proeza fazia a coisa parecer ainda mais incongruente. Nos primeiros minutos do filme, era exatamente nisso que eu pensava. À parte o sucesso de crítica e público, não via como aquela empreitada poderia funcionar. Vinte minutos depois, eu expressava uma inevitável reação: a vontade de pular do sofá e sair cantando "Dancing Queen".
"Mamma Mia!" é um filme delicioso, e não seria tanto se estivesse preso a fórmulas. Ao contrário, a iniciante diretora me parece de uma sensibilidade aguçada, observando o material que tem em mãos – a paisagem, os atores, as letras e o ritmo – e deixando que tudo aquilo que parecia não se encaixar se conecte quase que naturalmente. A cada cena o elenco se mostra mais confortável com a proposta do filme, assim como nós, espectadores. E os astros que eu imaginava não caberem numa comédia musical romântica se permitem o que é necessário a qualquer comédia elegante: ridicularizarem-se, sem perder a pose – ou mesmo perdendo, quando a arte pede (o auge disto é a cena dos créditos finais).
A protagonista Meryl Streep diverte-se nitidamente com o papel e, sim, acerta todas as nuances narrativas de um roteiro tão errático. É claro, há outras atrizes capazes de realizar um ângulo de quase 90 graus com a perna coreografando Abba (repito, ela está à beira de completar 60 anos) e interpretar “The Winner Takes It All” com a mesma força de um texto de Tennessee Williams (numa sucessão de enquadramentos quase exclusivamente fixos nela). Mas são poucas. O mérito da divertida brincadeira que é esse filme não é apenas da estrela. Sem a delicadeza e a sensibilidade de uma equipe inspirada não se provaria aqui algo simples, mas que nesses tempos em que a moda é amar a sétima arte e procurar sempre um je ne sais quois dentro dela, parece difícil enxergar: às vezes deve-se simplesmente levar o cinema menos a sério. Para mim, incialmente descrente nessa obra, só resta uma coisa a dizer:

"Mamma mia, here I go again
My my, how can I resist you?"
Isabella Goulart





Link para o texto sobre "Dúvida" no Pílula Pop:
http://www.pilulapop.com.br/receituario.php?id=939

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Tapa na cara.

Me preocupa o fuzuê que "Ele Não Está Tão A Fim De Você" (He’s Just Not That Into You, de Ken Kwapis, EUA 2009) tem causado, principalmente junto ao público feminino. Baseado em um Best Seller americano - nada mais do que um livro de auto-ajuda que promete às mulheres o tão esperado entendimento do comportamento masculino - o mesmo chegou aos cinemas com um time de estrelas de primeira grandeza da Hollywood atual, o que, junto com a narrativa melosa e engraçadinha, garante o sucesso de bilheteria. Jennifer Aniston, Ben Affleck, Drew Barrymore, Jennifer Connelly, Scarlett Johansson e a simpática Ginnifer Goodwin, entre outros, têm suas histórias de vida cruzadas, nas aventuras e desventuras de relacionamentos amorosos.
Tendo alguma noção sobre o assunto, uma vez que não passei os últimos quatro anos de minha vida estudando cálculos matemáticos ou fórmulas químicas, posso dizer com uma certa autoridade: Mulheres do meu Brasil, acalmem-se. Isso é SÓ um filme.
Filmes são filmes. Até os que recontam histórias verídicas continuam, indefinidamente, sendo filmes. São obras ficcionais, com fórmulas e facetas narrativas e visuais previamente pensadas para alcançarem um ou outro público, uma ou outra reação. E pra conseguir dinheiro, é claro. Afinal, Cinema, além de arte, é indústria e comércio também. Os personagens, por sua vez, não são pessoas reais. Em um roteiro, eles são construídos de forma que adotem arquétipos bastante específicos, e possam ser mais naturalmente apontados pelo público com personalidades fechadas e peculiares. Já disse isso aqui mesmo no blog, e repito: as pessoas, na vida real, são muito mais complexas do que isso.
Ele Não Está Tão A Fim De Você é pautado em explicações de por quê os homens fazem o que fazem. Porém, embora tudo acabe bem, uma vez que é uma comédia-romântica americana, ele se baseia em afirmações que podem ser interpretadas quase como uma Constituição pelas mentes mais desavisadas. Tudo bem que certas coisas não precisam de muita indagação: Se o cara não te liga é porque, realmente, ele não está a fim de te ligar. Se ele quiser te ligar, quiser te ver, te encontrar, ele vai dar um jeito. Não tem essa de trabalho demais, viagens a negócios aqui, compromissos profissionais ali. Muito menos a ladainha de “não estar pronto para um relacionamento sério” ou “estar com medo de se envolver.”. Sou uma pessoa que tem muitos amigos homens, e de algumas coisas eu simplesmente sei. Em primeiro lugar, homens não pensam como mulheres. Em segundo lugar, quando o cara está realmente a fim da mulher, ele faz acontecer. O tal do orgulho pode até retardar um pouco o processo, mas não o elimina de vez. A grande questão é que não é necessário um livro, ou muito menos um filme, para nos dizer isso. A vida se encarrega de nos ensinar. Se você que está lendo esse texto é mulher e ainda insiste em discutir com isso tudo, você só está se enganando e, mais cedo ou mais tarde, com um ou mil tapas da vida na cara, você vai aprender.
Porém, quando se trata de amor, carinho, paixão ou o nome que for, não existe lógica. Não se trata de aritmética, física quântica, ou muito menos um processo legal, no qual os argumentos são objetivos, retos, racionais. Em matérias do coração, muitas vezes a racionalidade vai por água abaixo, pois como amor não se explica, é comum termos que decidir pautado simplesmente no que sentimos. É subjetivo, irracional, conturbado. O que faz uma pessoa feliz é diferente do que faz a outra, e assim vai. Por isso, não comprem todas as idéias que o filme vende. Encarem-no como uma leve diversão, exatamente o que ele tem que ser – e é. Não pensem que ali estão grandes lições de vida, os segredos da alma masculina e, menos ainda, as regras e as exceções a elas. Não há exceções, simplesmente porque não há regras. O que vale, no fim das contas, é arriscar. E não perder as esperanças ou se deprimir com fórmulas pré-estabelecidas.

Mas ainda assim, não esperem plantadas ao lado do telefone, ou confiram suas caixas de e-mails várias vezes por dia se ele não te procurou. Partam pra outra se o cara começar a dar desculpas demais. Não há nada mais deprimente do que uma mulher que insiste em mentir pra si mesma.

No fim do dia, você vai perceber. Ele não está tão a fim de você.



Carolina Pavanelli

quinta-feira, 26 de março de 2009

Brando, um homem moderno

Continuando as impressões sobre Brando neste blog, inspiradas pela mostra “Brando – O Ator no Cinema”, hoje é a minha vez de escrever algumas palavras sobre o “tesouro máximo d’O Método” - como a Carol o apelidou aí embaixo. Pois bem, senhores, Carolina Pavanelli, como todos sabem, é cineasta e atriz. Já eu, além de cineasta, sou uma curiosa, aficionada pela história do cinema americano (o que a Carol também não deixa de ser), uma estudiosa do assunto, é possível dizer. O fato é que, poucos dias antes da mostra, Brando já havia cruzado o meu caminho. Zapeando os canais na TV por assinatura, encontrei, nem me lembro em qual deles, o documentário “Brando” (Mimi Freedman/Leslie Greif, Estados Unidos, 2007), quase pela metade. No mesmo dia, pude assistir, no TCM, a “Caçada Humana” (Arthur Penn, Estados Unidos, 1966) - que, infelizmente, não pôde constar no catálogo da mostra.
“O Último Tango em Paris” (1972) é, sem dúvida, um filme inesquecível. Mas é uma co-produção França/Itália dirigida por Bernardo Bertolucci, que representa um outro cinema, mais livre, além das fronteiras de Hollywood, que estava descobrindo suas regras – ou a falta delas – havia pouco tempo. Um cinema mais aberto à experimentação, a repensar a narrativa, a relação do ator com o texto e com o próprio personagem. Tratarei aqui de dois outros filmes de Brando: “Caçada Humana” e “O Pecado de Todos Nós” (John Huston, Estados Unidos, 1967), obras contemporâneas, inseridas numa já consolidada indústria de cinema americana.
Eram os anos 1960. Aos grandes estúdios de Hollywood já não era permitida a integração vertical (a possibilidade de atuar na produção, distribuição e exibição dos filmes); a TV realizava produções próprias e o público tinha entretenimento sem precisar sair de casa; o cinema se revolucionava, saía dos estúdios para as locações, rompia com a narrativa clássica que dominou a primeira década do século XX, sacudido pelos incômodos e culpas de um novo mundo, pós-Segunda Guerra.
Era imperativo que Hollywood acompanhasse as mudanças e se reestruturasse também. Não foi imediatamente, nunca houve uma quebra ampla, geral e irrestrita de padrões, mas, sim, os grandes estúdios da costa oeste, que nunca foram ingênuos, começaram a dançar conforme a música, combinando seu material de consumo ao perfil de uma nova geração. “Caçada Humana” foi um dos primeiros trabalhos de Arthur Penn no cinema, assim como de Robert Duvall e de seu xará Redford (grande sex symbol da década seguinte). No elenco, Angie Dickinson e Jane Fonda, musas de uma nova era. A história foca as frustrações, preconceitos e a ignorância da sociedade de uma típica cidadezinha americana, numa narrativa mais aberta, onde a trama não é o que mais importa.
Em “O Pecado de Todos Nós”, duas figuras icônicas da Hollywood clássica, John Huston e Elizabeth Taylor, e uma narrativa igualmente mais aberta. Com uma fotografia em sépia, onde as tonalidades do technicolor não poderiam desviar a atenção do espectador, Huston constrói relações difíceis, corajosas e sutis. Mais do que as ações, interessa aqui o comportamento dos personagens e é a atuação, mais do que o texto, que nos leva a conhecê-los.
No centro de ambos os filmes está Brando, possivelmente o maior ícone da modernidade de Hollywood. A definição do “ator”, a imagem de uma masculinidade ao mesmo tempo bruta e vulnerável, um homem com a capacidade de se transformar em qualquer homem. Brando personificou a figura do astro moderno que Hollywood precisava e reinventou o papel do ator no cinema, dando-lhe o peso criativo que tinham o diretor e o produtor. Sem a interpretação instintiva e humanizada de Brando, “Caçada Humana” e “O Pecado de Todos Nós” não teriam o ar moderno que aparentam, ainda que com os avanços narrativos.







Isabella Goulart

quarta-feira, 25 de março de 2009

Vinda de Brando, qualquer oferta é irrecusável.

Prazer visual é ver Marlon Brando em 35mm no delicioso O Último Tango em Paris, do igualmente genial Bernardo Bertolucci. Oportunidade rara ver Brando em película, e na primeira fileira, experimentando toda a magnitude do Mestre a poucos metros de mim. Felizmente esse deleite para os olhos foi possível graças à mostra “Brando, o ator no cinema”, atualmente na Caixa Cultural, no Rio.

Brando não foi um grande ator. Ele foi o maior deles. Aquele para quem todos os atores tem que olhar e pensar “como eu faço pra ser que nem esse cara?”. Minha primeira dica seria: nasce de novo. Reencarne umas cinco vezes.
Como isso não é possível, se afunde na leitura de Stanislavski, assista incansavelmente a toda a filmografia de Brando, observe os trejeitos, a maneira como ele delineava cada gesto, cada olhar, cada movimento. Ainda assim não será possível ser como ele, pois como todo gênio, ele era único. Entretanto, a bagagem de aprendizado e cultura valerá todo o esforço.

Cria e tesouro máximo d’O Método, Marlon Brando quase brinca em frente à câmera. É impressionante a facilidade como ele vai de rebelde à Corleone, de gay enrustido a viúvo tresloucado. Talvez nem mesmo fosse fácil, mas a tarefa do ator é fazê-lo parecer natural.

E eu já disse que ele era o maior deles?






Carolina Pavanelli

segunda-feira, 23 de março de 2009

Todos têm suas opiniões sobre cinema. Sempre tiveram, mas é fato que hoje, quando os papéis se inverteram e a produção – e a veiculação – das tais imagens em movimento não são privilégio de poucos, mas acessíveis a “qualquer um”, há uma certa overdose do assunto. Encontrar opiniões sobre a sétima arte na internet está entre as coisas mais fáceis do mundo.
Mas quando você senta numa mesa de bar e descobre que a pessoa ao seu lado é médica, arquiteta, engenheira, advogada, enfim, você não fala sobre a profissão de igual para igual. Você não emite opiniões tal qual um especialista no assunto. Com cinema é diferente.
Como explicar a um interlocutor que, assim como ele tem uma profissão, nós temos a nossa? Como lhe dizer que, embora a opinião dele esteja de acordo com a de alguns críticos, temos embasamento suficiente para discordar daqueles que fazem a cabeça de um público cinéfilo?
Pois a melhor coisa que ouvi sobre esta minha perturbação nos últimos tempos é que “o cinema é o futebol das artes”. Trata-se de uma arte subjetiva? Sim, claro. Mas o cinema é também uma engenharia, é feito de certezas e de (muitas) equações.
Nossa opinião está longe de ser a definitiva, muito menos uma bíblia a ser seguida. Ela é, sim, para ser considerada, pois vemos de dentro, acompanhamos cada passo, cada parte daquilo que, depois, o público vai assistir como uma obra completa.

Bem vindos(as) ao Prazer Visual.
Entrem e fiquem a vontade. Desliguem seus celulares, e não se esqueçam de recolher o lixo na saída. Em caso de emergência, aperte o [X] vermelho no canto superior direito da tela.

Isabella Goulart e Carolina Pavanelli agradecem sua preferência.